"Bosque de Bétulas" (Birch Forest) - Gustav Klimt (1862–1918)
Mário Silva
"Bosque de Bétulas" (Birch Forest)
Gustav Klimt (1862–1918)

A pintura "Bosque de Bétulas", da autoria do pintor austríaco Gustav Klimt (1862–1918), é uma paisagem a óleo que se destaca pelo seu formato invulgarmente quadrado e pelo seu tratamento altamente estilizado da natureza, característico do movimento da Secessão de Viena.
.
A obra apresenta uma densa cortina de troncos de árvores que preenchem quase todo o campo visual, criando uma composição que se assemelha a um padrão ou tapeçaria.
A profundidade é sugerida mais pelo sobrepor das formas do que pela perspetiva tradicional.
.
As bétulas são representadas por pinceladas verticais longas em tons de castanho-avermelhado, laranja queimado e ocre, interrompidas por manchas e pequenos pontos pretos e brancos que simulam a casca das bétulas.
O chão do bosque é tratado com uma profusão de pinceladas curtas e pontilhadas em tons de verde e laranja-dourado, salpicado de pequenas flores brancas.
O céu é pouco visível, espreitando por entre as copas das árvores no topo.
A paleta de cores é dominada por tons outonais e quentes, conferindo à obra uma atmosfera envolvente e feérica.
.
"Bosque de Bétulas" é um excelente exemplar do estilo único de Klimt, onde o Naturalismo é fundido com o Esteticismo e o Simbolismo, refletindo os ideais da Arte Nova (Jugendstil).
.
A Paisagem como Padrão Decorativo: A principal inovação da pintura reside na sua transformação da paisagem num padrão bidimensional.
Klimt anula a profundidade tradicional para criar uma superfície decorativa, onde a cor e a textura dos troncos são o foco.
Esta abordagem espelha a sua intenção de quebrar a barreira entre a arte "elevada" e as artes decorativas, um princípio central da Secessão.
.
O Efeito Mosaico e a Influência do Impressionismo: A técnica utilizada para pintar o chão e a folhagem é reminiscente do Pontilhismo ou do Impressionismo, com pinceladas soltas e justapostas que se misturam no olhar do observador para criar cor e luz.
No entanto, o artista aplica estas técnicas para um fim mais simbólico e decorativo do que o simples registo da luz natural.
O efeito final assemelha-se a um mosaico ou um bordado intrincado, ligando-o à sua famosa "Fase Dourada" e ao seu trabalho com design.
.
O Simbolismo da Floresta: A floresta, como tema, era popular no Simbolismo, representando o subconsciente, o mistério e o refúgio.
Em Klimt, a densidade da floresta e a repetição vertical dos troncos criam uma sensação de claustro ou barreira, convidando o observador a penetrar no mistério da natureza.
A luz é filtrada, criando uma atmosfera que é ao mesmo tempo acolhedora e ligeiramente opressiva.
.
Em conclusão, "Bosque de Bétulas" é uma obra-chave na produção paisagística de Gustav Klimt.
O artista transcende a simples representação da natureza para criar uma meditação sobre a forma, a cor e o padrão.
A sua capacidade de fundir a observação da natureza com uma estilização radical e decorativa faz desta pintura um ícone do Modernismo austríaco, onde a paisagem se torna uma rica e envolvente visão simbólica.
.
Texto: ©MárioSilva
Pintura: Gustav Klimt
.
.
